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As pessoas estão preocupadas com a geração de lixo plástico, o que naturalmente leva à sugestão de que deveríamos reduzir nosso uso de plásticos. Além disso, como os itens jogados fora frequentemente vêm de grandes marcas reconhecidas, foi dito que as marcas são responsáveis pelo lixo. Alguns acreditam que elas devem ser obrigadas a pagar pela limpeza por meio de programas de responsabilidade ampliada do produtor (RAP).
Esse é um diagnóstico preciso do problema? Os plásticos causam lixo e as soluções propostas podem funcionar? Vamos investigar primeiro com algumas evidências equivocadas, mas seguidas, é claro, de evidências científicas sólidas.
Plástico & lixo: a evidência
Evidência equivocada sobre lixo plástico
Antes de mergulhar na ciência, é preciso considerar o que sabemos sobre lixo a partir de nossa própria experiência. Ao sair para passear, provavelmente você encontra algum lixo… bitucas de cigarro, papéis de doces, garrafas de refrigerante, latas e copos, às vezes alguma moeda.
O lixo que eu e você vemos todos os dias é composto por papel, plástico, metal, vidro e até mesmo matéria orgânica, cortesia de animais de estimação e vida selvagem. Então, sabemos que o lixo é composto por todos os materiais, não apenas plástico.
Vamos aplicar um pouco mais de bom senso, usando um exemplo que pode fazer parte da sua realidade ou de uma pessoa próxima. Imagine que você gosta de tomar uma taça de vinho todas as noites, e ao abrir uma garrafa nova, coloque a rolha em uma prateleira da cozinha. Ao longo dos anos, essa pequena coleção de rolhas irá crescer, certo? O ponto é que cada uma das rolhas ainda está lá, nenhuma saiu andando voluntariamente para o lixo, para as ruas ou qualquer outro local. Isso é bem óbvio, mas a verdade é que nenhum objeto inanimado irá para outro lugar, a não ser que nós façamos isso. Os resíduos só se tornam lixo quando o descartamos.
Evidência científica sobre lixo plástico
É realmente verdade que as pessoas causam lixo? Temos alguma evidência sólida sobre esse assunto, para que possamos ter certeza qual é a verdadeira causa do lixo?
Cientistas realizaram muitos estudos detalhados sobre lixo. Estudo após estudo mostra a mesma conclusão, que aproximadamente 80% do lixo é jogado intencionalmente pelas pessoas. Os cientistas literalmente observam as pessoas jogando e descartando seu lixo de propósito. Aqui está um exemplo de quão abrangentes esses estudos podem ser ― observações de descarte de lixo foram feitas em cerca de dez mil indivíduos em 130 locais em todo os EUA.
Esses cientistas prosseguiram especificando os tipos de lixo. De quase 2000 eventos registrados, os mais frequentes foram cigarros (340), lixo misto (337) e papel (272). Claramente, o plástico está longe de ser o único ou o principal contribuinte. O comportamento de jogar lixo fora dependia 85% das características dos indivíduos, como idade, gênero, atitudes e motivação, e apenas 15% das características do local, como a presença prévia de lixo ou a disponibilidade de lixeiras
Frequentemente surgem debates sobre a relação entre o surgimento de lixo e o número de lixeiras suficientes. É o caso? O estudo revelou que a taxa de descarte de lixo era de 30% quando as lixeiras estavam a 18 metros de distância ou mais, e a taxa média de descarte de lixo era de 17%. As taxas de descarte de lixo foram reduzidas consideravelmente quando mais lixeiras foram adicionadas e a quantidade mínima de lixo foi de 12%, quando as lixeiras estavam a 6 metros de distância ou mais próximas. Isso nos diz que, não importa quantas lixeiras sejam fornecidas, o descarte significativo de lixo ainda ocorrerá porque algumas pessoas simplesmente ignoram a importância de descartar o lixo nos locais corretos. Mesmo com uma lixeira colocada a cada 8 passos, é muito trabalho para essas pessoas fazerem o esforço.
Vários estudos mostraram o caminho para reduzir o lixo. Os métodos comprovados são:
- Embelezamento: a presença de lixo nas ruas incentiva as pessoas a descartarem mais lixo de maneira incorreta. Manter as ruas limpas faz com que os cidadãos pensem antes de jogar o lixo em qualquer lugar.
- Oportunidade: fornecer lixeiras facilmente reconhecíveis e acessíveis, com mensagens claras, ajuda muito, até certo ponto.
- Mensagens: embora geralmente não sejam eficazes, as inserções de mídia devem enfatizar que a maioria não joga lixo nas ruas e a sociedade desaprova fortemente essa atitude.
Lixo em praias
Praias acessíveis
Ouvimos muito sobre lixo nas praias. As pessoas geralmente pensam que esses resíduos são levados pelo mar. É o caso, ou é depositado diretamente na praia? Há vários estudos substanciais sobre o assunto e todos mostram que o lixo de praia vem principalmente das pessoas na praia. Esses estudos também propõem que, como o lixo de praia é causado por frequentadores da praia, as soluções são baseadas na mudança de comportamento por meio de educação e adição de mais lixeiras.
“As praias com menores níveis de urbanização também tinham quantidades menores de lixo antropogênico. Itens relacionados aos usuários de praia foram predominantes para a maioria das praias. A confirmação de que os usuários de praia são principalmente responsáveis pela geração de lixo antropogênico pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias para reduzir o problema, como instalar lixeiras e contêineres de distribuição para coleta de lixo antropogênico e projetar campanhas educacionais para os usuários de praia.”
M. C. B. Araújo, J. S. Silva-Cavalcanti e M. F. Costa, Lixo antropogênico em praias com diferentes níveis de desenvolvimento e uso: um instantâneo de uma costa em Pernambuco (Brasil), Frontiers in Marine Science, 5 (233), 20181
Foi constatado que as pessoas vão jogar lixo em uma praia até que ela fique tão feia que elas não queiram mais ir lá. Nesse ponto, elas vão procurar uma nova praia limpa e continuar a arruiná-la.
“Na Califórnia costeira, os visitantes são relatados para viajar distâncias maiores para evitar praias com mais lixo e no Brasil, uma pesquisa recente relata que 85% dos frequentadores de praia evitarão praias com altas cargas de lixo (mais de 15 peças por m³). Isso também é interessante à luz de inúmeros relatos (e evidências anedóticas) de que os frequentadores de praia podem ser uma fonte contribuinte de detritos.”
J. Vince & B. D. Harvesty, Soluções de Governança para a Tragédia dos Comuns que os Plásticos Marinhos Se Tornaram, Frontiers in Marine Science, 5 (214), 2018
Tais praias são uma importante fonte de renda para os negócios locais e o governo, então faria sentido para eles gastarem parte do dinheiro arrecadado com impostos dos frequentadores de praia para pagar por uma limpeza eficaz, caso contrário, as pessoas irão para outro lugar, e sua renda diminuirá.
Lixo em praias remotas
As únicas praias que a maioria das pessoas visita são, sem surpresa, praias de fácil acesso. O público vê essas praias altamente sujas e naturalmente assume que todas as praias ao redor do mundo parecem iguais. Mas essa suposição é válida? Os cientistas visitaram praias remotas, ou seja, aquelas que turistas e moradores têm dificuldade em alcançar há várias décadas, para ver como elas são.
Essas praias isoladas têm muito menos lixo e são dominadas por redes de pesca e cordas, em vez dos tipos de lixo encontrados em praias frequentadas por pessoas. O motivo é simples, o lixo é levado para a costa pelo oceano circundante.
A Ilha de Henderson é uma ilha remota e desabitada no sul do Oceano Pacífico. Ela ficou famosa quando se afirmou que uma média de 3.570 novas peças chegam a cada dia em uma única praia e que “A densidade de (plástico) resíduos era a mais alta registrada em qualquer lugar do mundo”. Eles continuaram a dizer que não há ponto em tentar uma limpeza porque tanto lixo novo é jogado todos os dias.
Essa declaração é surpreendente, já que tantos estudos diziam o contrário. O Dr. Patrick Moore, ex-presidente e diretor do Greenpeace, disse que as afirmações dos ambientalistas eram uma fraude e em seu livro mostrou imagens de satélite da ilha mostrando que as praias na verdade não têm lixo.
Em seu livro, o Dr. Moore desmente completamente o mito do Giro do Pacífico, incluindo uma imagem frequentemente usada para retratar o giro e revela que na verdade são detritos flutuando após o Terremoto e Tsunami Japonês em 2011.Moore, Falsas Catástrofes Invisíveis e Ameaças de Destruição, Ecosense Environmental Inc., EUA 2021
Lixo nos oceanos – giros
E quanto ao lixo nos oceanos? Isso é diferente? Certamente ouvimos muito sobre ilhas flutuantes de lixo nos oceanos ― os chamados giros. O que os cientistas sabem sobre isso? No mar, não há como os cientistas observarem o lixo sendo jogado enquanto isso acontece. Em vez disso, eles analisam o lixo em si para descobrir o que está lá, há quanto tempo está lá e qual a origem desses resíduos.
Os cientistas têm estudado o lixo nos oceanos por décadas. Eles navegam com navios, coletando milhões de amostras e as analisando, e relatam com 100% de certeza que os giros não são ilhas flutuantes de plástico. A quantidade de lixo é tão pequena que não há como identificar quando alguém navega por um giro; nem mesmo é notado pelos nadadores.
Até mesmo cientistas em artigos revisados por pares explicam que todos fomos enganados. As pessoas procuraram as ilhas flutuantes usando satélites, mas elas não estão lá.
“Fiquei chocada com o quão pequenos eram os pedaços. Fiquei chocada que muitas peças fossem tão pequenas e que tudo estivesse se degradando tão rapidamente.”
K. De Wolff, Circulando: Plástico, Ciência e o Grande Pedaço de Lixo do Pacífico, Tese de Doutorado, Universidade da Califórnia, San Diego, 20142
Então, como o mito surgiu? Não somos as únicas pessoas a fazer essa pergunta. Kim De Wolff obteve seu PhD investigando a evolução dos primeiros relatórios de giros e como a verdade se distorceu maciçamente ao longo do tempo. Uma publicação alemã chamada Geo relatou os giros como um “tapete” de plástico, mas quando o jornal russo Pravda cobriu a história, eles transformaram o tapete em uma ilha de lixo. Ironicamente, a palavra russa Pravda significa verdade – mas não neste caso. (Ilha de Lixo descoberta no Oceano Pacífico, Pravda Online, 24 de fevereiro de 2004)
A Dra. De Wolff entrevistou principais cientistas de giros que expressaram frustração de que organizações, incluindo Greenpeace e o New York Times, continuem a falar sobre ilhas mesmo quando elas na verdade não existem. Os especialistas apontam que apresentar os giros como ilhas é prejudicial porque as pessoas propõem soluções de limpeza com base nessas informações falsas. Tais soluções estão fadadas ao fracasso.
Você pode ter visto artigos mostrando navios que navegam ao redor tentando coletar o lixo nos giros. Uma postagem recente disse que a Grande Limpeza dos Oceanos gastou dois anos e milhões de dólares e seu teste de três dias coletou apenas 9 toneladas métricas de lixo. Este é um exemplo clássico de tempo e dinheiro desperdiçados. O governo dos EUA calculou que essa abordagem não pode funcionar. Além disso, não é ecológico ter centenas de navios poluentes navegando para coletar pequenos fragmentos em uma forma muito diluída. Seus esforços para limpar o meio ambiente na verdade causam muito mais danos por causa de todo o diesel usado, CO2 gerado e assim por diante.
De acordo com cientistas, os giros contêm cerca de 50% em massa de equipamentos de pesca descartados, então a indústria pesqueira tem muito a responder. Redes descartadas, chamadas de redes fantasmas, prejudicam a vida marinha. Algumas pessoas culpam o plástico do qual a rede é feita, mas esse argumento não se sustenta. Primeiro, a culpa é da indústria pesqueira por abandonar a rede. Em segundo lugar, redes de corda de cânhamo abandonadas, introduzidas pela primeira vez há mais de 1000 anos, também prejudicam a vida marinha ― então o problema ocorre independentemente do material do qual a rede é feita.
Há outro tópico que merece ser abordado ― existem quantidades incríveis de produtos químicos tóxicos, navios afundados vazando óleo, bombas não detonadas e assim por diante nos oceanos. Há também uma quantidade fenomenal de latas de cerveja, cerâmica, vidro, papelão e muito mais. Os cientistas examinaram o leito oceânico e sabem exatamente o que está lá. Por que então as pessoas só falam sobre o plástico? Provavelmente porque ele flutua e o resto afunda. Talvez seja um caso de “longe da vista, longe da mente”, mas se as pessoas realmente se importassem com o que está em nossos oceanos, então elas deveriam começar a falar e agir sobre o restante também.
Microplásticos
Por anos, nos disseram que milhões de toneladas de microplásticos entram em nossos oceanos pelos rios a cada ano. No entanto, quando foram procurar por todo esse plástico, ele não estava lá. Os cientistas ficaram confusos. Eles voltaram e verificaram suas estimativas da quantidade de plástico que entra nos oceanos e descobriram que haviam cometido um grande erro. O “plástico desaparecido” foi encontrado. Os números então foram corrigidos. A última estimativa para a quantidade de microplásticos que entram nos oceanos pelos rios não é de milhões de toneladas, mas de 6000 toneladas.
Lixo plástico – perspectiva e contexto
Muita conversa sobre plásticos falha em considerar o quadro geral. O resultado é um diagnóstico incorreto do problema e a implementação de políticas que pioram o problema em vez de resolvê-lo. Por exemplo, falamos apenas sobre lixo plástico como se fosse o único tipo. Claro, sabemos com certeza que existem outros tipos também. Mesmo que todo o lixo plástico desaparecesse da noite para o dia, a maioria do problema ainda permaneceria.
Outro aspecto que nunca recebe atenção é o que aconteceria se, por exemplo, substituíssemos sacolas plásticas por sacolas de papel. Sabemos que as sacolas de papel são menos ecológicas e pesam dez vezes mais. Isso significa dez vezes mais lixo em peso. Da mesma forma, substituir plásticos por outros materiais significa muito mais lixo em peso e muitos desses materiais levam muito mais tempo para se degradar do que os plásticos. Vidro, cerâmica e metais podem levar um tempo tremendamente longo para se degradar. Então, a ideia de que a substituição resolverá o problema do lixo é ficção.
E o papel? Não se degrada rapidamente? Não necessariamente. Temos documentos de papel com mais de 1000 anos que ainda são legíveis. Os cientistas calculam que o papel leva cerca de 2700 anos para se degradar sob algumas condições, por exemplo, quando está seco. Plásticos comuns como PE e PP degradam-se muito mais rapidamente nessas condições. Um filme de polipropileno se degrada e se desfaz em menos de um ano nas mesmas condições em que o papel leva centenas de anos para se degradar.
Ao analisar os materiais alternativos, podemos ver que focar nos plásticos como solução para o lixo é ingênuo e não produtivo.
Conclusões e política sobre plásticos e lixo
- O lixo é causado pelas pessoas
- Culpar empresas ou materiais é imprudente, injusto e contraproducente
- Substituições de plástico são menos ecológicas e aumentam o lixo
Ao examinar as evidências, vemos uma prova incontestável de que o lixo é causado pelas pessoas, não pelos materiais ou pelas empresas. Esse é um ponto crucial, porque uma vez que sabemos que o problema é causado pelas pessoas, podemos ter certeza de que a única maneira de promover mudanças é modificar o comportamento dessas pessoas. Não apenas isso, mas sabemos quais ações são cientificamente comprovadas como eficazes:
- A presença de lixo existente aumenta a tendência das pessoas de adicionar mais lixo.
- Limpar o lixo existente reduz a quantidade subsequente de lixo depositado.
- Fornecer recipientes facilmente reconhecíveis e acessíveis, com mensagens claras, ajuda muito, até certo ponto.
- As colocações na mídia devem enfatizar que a maioria não joga lixo e que a sociedade reprova fortemente o ato de jogar lixo e os que o fazem.
- Como as colocações na mídia foram consideradas pouco eficazes, a educação dos jovens e multas pesadas para adultos são ações que poderíamos tomar.
Entre as soluções apresentadas, a proibição de plásticos não resolve a crise do lixo. Afinal, o problema está nas pessoas que descartam os resíduos de maneira incorreta, pode ser uma garrafa PET ou uma lata de alumínio.
A responsabilidade ampliada do produtor (EPR) também não é uma solução eficaz. Primeiro, porque não é o produtor quem joga o lixo. Em segundo lugar, já pagamos impostos para latas de lixo públicas, limpeza e disposição. Sistemas de EPR nos forçariam a pagar duas vezes pelo mesmo serviço, já que nossos impostos pagam por esse serviço e os fabricantes provavelmente irão repassar o custo do EPR para os consumidores.
Por outro lado, os sistemas de depósito são comprovadamente eficazes. Eles não custam nada extra ao consumidor, pois o depósito é devolvido quando a garrafa vazia é entregue. Atribuir um valor monetário à potencial fonte de lixo garante que ela seja transportada de volta para reciclagem. Esses sistemas funcionam há décadas, com latas de alumínio e também as garrafas PET de refrigerante em vários países. Taxas de devolução de mais de 95% são comumente alcançadas.
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